O impacto de Gumbrecht no seminário “Discursos em Interfaces Contemporâneas”
Por Phelype Gonçalves
Durante o seminário Discursos em Interfaces Contemporâneas: Clássicos Revisitados, Hans Ulrich Gumbrecht – professor na Stanford University – discorreu sobre Shakespeare, Racine e Cervantes. E chamou a atenção da platéia, que lotou o Auditório Paulo Freire do ICHS, não só pelos aspectos interessantes e polêmicos daquilo que abordou, mas pela simpatia e bom humor. Para Gumbrecht, “os homens consideram-se observadores, são curiosos e é exatamente essa curiosidade toda que modifica o mundo”. Ele salientou que isso pode ocorrer, hoje, graças à modernidade, o que era impossível na idade média. O professor, a partir da afirmação, citou oito correlações entre os textos de Cervantes, classificando-os e avaliando-os aos seus leitores, relacionando o modo de escrever atual – sempre utilizando o que se vê, o que se pensa e o que se vive –, com o modo tradicional da época do autor.
O palestrante falou ainda de comunicação compacta – um modo mais reduzido de se comunicar, porém, com mais intensidade e com exclusão da presença de quem se comunica. Ao lembrar de Shakespeare, de poesias e sonetos, Gumbrecht afirmou que uma das funções da forma poética é a de congelar o tempo.
O professor americano discorreu sobre a porosidade dos textos, fazendo uma ponte com os clássicos passados e os atuais. Gumbrecht “ousou” em seu comentário final ao dizer que os clássicos não devem ser impostos, mas ficaria feliz se todos pudessem conhecer e entrar nesse universo.
De Shakespeare ao futebol brasileiro
Filho de um casal alemão, nascido na Alemanha, o professor Hans Ulrich Gumbrecht, pela segunda vez na UFRRJ (exatamente um ano depois de sua primeira visita), autoridade em assuntos literários, em entrevista ao blog do ICHS em Foco, revelou ter uma página na internet onde escreve, além de literatura, sobre futebol, inclusive o brasileiro. No que diz respeito aos clássicos literários, Gumbrecht disse que um texto histórico pode causar algo no mundo e pode haver uma relação e uma identificação entre o presente e o passado:
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Gumbrecht em foto de Phelype Gonçalves |
- A imediatez que a poesia traz é o mais gostoso. Eu quase choro com alguns textos. Fico muito triste quando leio sobre o holocausto, é como se eu estivesse lá, ainda mais quando leio sobre as pessoas fazendo suas próprias covas – ressaltou o professor. – Os textos deixam cicatrizes na sociedade.
Para quem se interessou e quer acompanhar ou ler sobre os textos de Gumbrecht, publicados no blog do professor, basta acessar http://www.faz.net./ A página está em alemão, mas pode ser traduzida por uma ferramenta que o Google disponibiliza, como o próprio Gumbrecht lembrou:
– Entra no Google, digita o site e vai aparecer traduzir esta página. É só clicar e pronto – completou sorridente.